26 de novembro de 2011

ACABOU SE O QUE ERA DOCE SOZINHA NOVAMENTE

Artur da Távola



A DOR DO AMOR QUE SE ACABA



Todo casamento que "acaba" já se acabara muito antes. O amor é um sentimento tão forte que, até para admitir o seu término, precisa de tempo. Quando algo estoura ou vem à tona é porque de há muito borbulhava, subterrâneo. Aceitar que o amor acabou é tão difícil como admitir a sua existência!

Fico a pensar nos quilômetros de discussões com as quais milhares de casais disfarçam o amor que começa a terminar, ou já morreu e começa a tresandar. Penso na dor sorrateira e covarde do amor que começa a acabar. Penso no sentimento de perda que se instala até nas relações que se tornam frias e distantes. Sofro por pessoas que estão trilhando o doloroso caminho da descoberta dos impasses com o ser amado; as que estão descobrindo defeitos, desencontros, impossibilidades de encaixes e de suplementação nas relações. Penso nos que estão tentando gostar, já não mais conseguindo. Compadeço-me dos que colocam flores e esparadrapo na própria decepção ou no cansaço de suas relações rotinizadas, robotizadas, endurecidas, cristalizadas, congeladas.

A dor do amor que não se realizou gera doloroso sentimento de perda. A perda prescinde do amor. Até onde este não mais existe, ela dói e machuca. O sentimento de perda transcende o amor. Talvez seja até maior, como sentimento, que o amor, pois o sentimento de perda perdura, a despeito de haver acabado.

Sente-se a perda da pessoa a quem se amou e sente-se a perda do amor. O que dói no amor que termina não é o fato de ter acabado. Nesse sentido é até alívio. Dói o fracasso do que poderia ter sido; os cacos do que, mal ou bem, foi construído em comum; é a contemplação da morte através da verificação da existência de uma pessoa em nós e no outro que já não existe, que mudou, transformou-se e cresceu ou apodreceu e piorou.

A gradativa aceitação da inexistência do amor é ferrugem existencial difícil de ser aceita. Por isso o amor passado é dotado de muitas caras e, para se proteger dessa ferrugem, admite crescer em outras direções, igualmente prazenteiras: a da amizade, do carinho, da compreensão. Talvez.

2 comentários:

Criações de Geny disse...

OI, AMIGA
Lindos versos de Artur da Távola ele sempre diz coisas com muita propriedade.Amei seu blog e já estou te seguindo, visite-me.
criacoesdegeny....bjs!

areiasdejade disse...

Algumas pessoas afirmam de pés juntos que o ser humano ama o amor, e não o outro. Realmente o amor é uma emoção suprema e viver sem êle as vezes dói; quanto a amar o outro é complicado pois todos temos defeitos e qualidades, mas a maioria esconde seus defeitos até conseguir ter o outro em suas mãos, e aí então começa uma relação doentia, ou sofrida, ou violenta ou até mesmo indiferente. A vida não é fácil, e as armadilhas do amor são invisíveis para quem está envolvido, pois o amor é cego e surdo! Feliz daquele que consegue encontrar a pessoa certa!
Este texto que você nos brindou é lindo demais, adorei!
Rosinha um beijão
Nely